Por décadas, os shampo eram divididos em três grupos básicos: neutros, para cabelos oleosos e para cabelos secos. Muitos não passavam de “detergentes” capilares. Mas o mercado cresceu muito – e o Brasil responde hoje por 12% do mercado mundial de produtos para cabelos -- foi agregando novos componentes e os cuidados com a beleza subiram para um patamar muito mais alto. Com isso, os antigos “detergentes” foram se diversificando a ponto de deixar o consumidor perdido diante de tantas opções nas prateleiras de farmácias e drogarias. Hoje, as fórmulas dos xampus – que são muito mais cosméticos do que produtos de higiene-- levam em consideração o formato e o volume dos fios, a cor e as intervenções químicas pelas quais o cabelo já passou. Mas será que o atendente de farmácia e os clientes conseguem interpretar corretamente rótulos e as fórmulas de shampoo para orientar e consumar a escolha? Esta matéria tenta desenrolar o fio da meada dos xampus hoje disponíveis no mercado
“A matéria-prima básica de qualquer xampu ainda é o detergente. Mas a concentração desse detergente muda de acordo com o tipo de cabelo: maior para oleosos, menor para secos”, explica, de início, o dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo. São os demais princípios ativos, como extratos vegetais, proteínas e silicones, que dão às fórmulas de cada xampu características próprias, que o consumidor geralmente assume como o que melhor se adapta a seus cabelos. Hamamélis e bardana, por exemplo, são elementos que ajudam a controlar a oleosidade. Mas os especialistas ressaltam: a ação dos princípios ativos se restringe ao período de contato do produto com o cabelo, ou seja, cerca de três minutos – a média de tempo em que ele é aplicado. As exceções são os xampus para cabelos cacheados ou lisos.
Segundo o Dr. Ademir Jr., dermatologista da Associação Internacional de Tricologia, esses produtos contêm polímeros e silicones que aderem aos fios, os deixam mais pesados e só saem na lavagem seguinte. No Brasil, graças à mistura de raças e à variação climática, encontram-se praticamente todos os tipos de cabelos conhecidos. Uma pesquisa recente da marca francesa L’Oréal identificou no país sete dos oito tipos de cabelo existentes no mundo. As brasileiras, independentemente de seu tipo de cabelo, são fãs de alisamento e coloração – como demonstram as vendas exponenciais dos produtos com esse fim. De qualquer forma, ensinam os especialistas, o ideal para a maioria das pessoas é lavar os cabelos três vezes por semana, para não retirar o manto hidrolipídico que recobre e protege a fibra capilar. Para quem sofre com o excesso de oleosidade, é indicado usar água morna e alternar o xampu para cabelos oleosos com um mais suave, como os infantis. Alternar produtos, por sinal, é um truquezinho utilizado pelas pessoas que se “viciam” em determinado xampu. O Dr. Bedin desmente essa hipótese: “Não existe estudo que comprove isso, até porque a base do xampu varia pouco”.
Hormônios, sempre eles
Mas um fator que interfere na ação do produto: os ciclos hormonais. O pH do couro cabeludo da mulher se altera no período menstrual, e o mesmo xampu pode ter respostas diferentes, porque o couro cabeludo mudou.
Convém prestar atenção ao pH do produto? “Nem todas as marcas trazem essa informação no rótulo, e isso pode confundir ainda mais”, acredita o Dr. Bedin. Teoricamente, o pH deve ser levemente ácido, a exemplo do couro cabeludo, que tem pH de 5,5. Quanto mais baixo, mais ácido – e, paradoxalmente, menos agressivo. Para quem tem cabelos danificados, o mais importante é usar produtos com ativos reconstrutores e, no caso de cabelos descoloridos e tingidos, evitar os xampus antirresíduos. “O antirresíduo é indicado para quem usa muito finalizador, como leave-in, gel e fixador, ou trabalha em ambientes muito poluídos. Mas deve ser usado no máximo uma vez por mês, porque ele tira, junto com os resíduos, também a coloração e a proteção natural do fio”, diz o Dr. Ademir Jr. Com relação aos xampu antiqueda, a opinião dos especialistas é mais ou menos unânime: nenhum xampu é capaz de prevenir ou reverter a queda. “O que existe é o xampu para queda causada pela quebra, que fortalece o fio no comprimento”, diz Bedin.
UM XAMPU PARA CADA UM
Hoje, os produtos costumam ser apresentados por seu “estilo”, seu modo de agir. Estes são os mais comuns no mercado:
Xampu sem sal: normalmente, a fórmula leva cloreto de sódio (sal comum) para ficar mais espesso. Mas o xampu sem sal, segundo os especialistas, é melhor para a maior parte dos tipos de cabelos. Na hora de comprar o produto, verifique se a fórmula dispõe de alternativas para espessar o xampu, sem ressecar os fios como faz o sal. Derivados de laurilpoliglucose são substâncias seguras que, além de umectantes, auxiliam na proteção e balanceamento dos fios.
Dois em um: misto de xampu e condicionador. Seu tipo de formulação combina limpeza com condicionamento. Não são indicados para cabelos oleosos, pois o condicionador vai se acumulando e deixa o cabelo gorduroso.
Uso diário: tem uma formulação mais suave, que permite o uso frequente sem danificar os cabelos.
Neutro: tem dois significados. O primeiro é que pode ser usado para todo tipo de cabelo e o segundo faz referência ao pH do produto, nem ácido nem alcalino, mas neutro.
Anticaspa: sua fórmula conta com ativos que combatem a flora microbiana causadora da caspa.
Antirresíduos: possui ativos que promovem a remoção dos resíduos, limpando profundamente os fios.
Termoativo: contém ativos que formam uma espécie de máscara, protegendo a fibra capilar dos efeitos do secador e da chapinha. A grande maioria desses ativos são silicones e outros agentes formadores da máscara.
Para cabelos com frizz: contém ativos que reduzem o volume por eliminação da carga eletrostática, como polímeros catiônicos e quaternizados de proteína.
Para cabelos oleosos: contém ativos adstringentes que controlam a oleosidade, como extratos vegetais.
Para cabelos normais: contém ativos que ajudam a preservar a saúde, hidratação e brilho do cabelo.
Para cabelos secos: contém ativos sobre-engordurantes e hidratantes que repõem a cutícula, como polímeros, silicones aminofuncionais e hidrolisados de queratina.
Para cabelos quebradiços:contém ativos que favorecem o fortalecimento do fio e a reparação dos cabelos sem brilho. Também conta com ativos que condicionam e favorecem o fechamento da cutícula, como extratos vegetais, polímeros, silicones e aminoácidos funcionais.
Para cabelos tingidos: contém ativos que protegem a cor da tintura. Em alguns casos, contém também filtros solares que interagem com a fibra capilar, promovendo fotoproteção.
APRENDA A LER A FÓRMULA
OS INGREDIENTES MAIS USADOS EM RECEITAS DE XAMPU
Lauril Sulfato de Sódio – É o detergente mais usado por ser o mais barato. Pode ser substituído por variações mais suaves e menos irritantes, como o Lauril Éter Sulfato de Sódio e o Lauril Éter Sulfossuccionato de Sódio.
Cocamidopropil Betaína – Detergente que deixa a espuma mais cremosa e diminui a eletrostática. Costuma ser usado com o Cocoanfoacetato Dissódico e o Poliquatérnio-10, que têm as mesmas funções.
Polissorbato-20 – Além de ser um detergente não irritante, ajuda a dissolver as fragrâncias mais difíceis.
Cloreto de sódio – É exatamente o sal de cozinha, que no xampu serve como espessaste, para dar mais viscosidade.
Ácido Cítrico – Acidulante usado para diminuir o pH da formulação, deixando o xampu mais ácido.
Metilparabeno, propilparabeno e etilparabeno – Conservantes presentes em praticamente todos os cosméticos.
Fenoxietanol e Diazolinidil Urea – Agente conservante que inibe o crescimento de bactérias e fungos.
Pantenol – Álcool do grupo das vitaminas do Complexo B, que está normalmente presente na pele e no cabelo. Hidrata e deixa os fios macios e com brilho.
Sódio PCA – Restaura e mantém um nível ótimo de hidratação. Pode ser usado em praticamente todos os produtos cosméticos.
Aminoácido de Trigo – Restaura a estrutura danificada dos fios e tem capacidade de formar um filme protetor.
Silício orgânico – Usado em produtos mais caros, tem maior poder de hidratação.
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